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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pra quem é Addams, é normal!


Longe de ser apenas mais uma comédia sem conteúdo A Família Addams celebra o respeito entre as diferenças, o amor e a verdade acima de tudo. A verdade e o amor em Addams transcendem o texto, as letras e a melodia e ficam estampadas nas interpretações de Marisa Orth, Daniel Boaventura, Cláudio Galvan e da hipnotizante Laura Lobo.

Às vezes, os orçamentos exorbitantes se colocam como único ponto forte de uma montagem. Para calar a crítica precipitada e para felicidade do público, os assustadores 25 milhões de reais¹ gastos na produção estão longe de ser o ponto principal do espetáculo.

Mortícia (Marisa Orth) e Gomes (Daniel Boaventura) são apaixonados e estruturam seu casamento baseados na verdade. Na estória, a filha primogênita do casal, Wandinha (Laura Lobo), está noiva de um rapaz da família do interior, classificada como normal. A diferença entre as famílias faz a união parecer impossível até que o desenrolar da trama nos mostra que normalidade é um conceito tão pessoal e diferente que a única coisa que podemos entender como “ser normal” é respeitar as particularidades que existem de cada um para cada um.

A versão brasileira da A Família Addams (com tradução e versões de Cláudio Botelho), além de uma ótima opção de entretenimento nos dá uma verdadeira aula de moral e bons costumes. Desde a primeira música “Pra Quem É Addams” (a viciante “When You Are Addams” no original) somos inspirados por mensagens diretas de versos como “o maridão adora a esposa”, “um certo humor é necessário”, “é sempre hora para o amor”, “a regra da família diz: família é pra valer”. Outras versões incríveis e igualmente viciantes são “Bom Caminho” (Pulled) e "Só dessa Vez" (One Normal Night) que nos transportam de vez para dentro do espetáculo e nos fazem torcedores, desejosos e apreensivos, vibrando para que tudo dê certo – o que parece bem difícil.

Daniel Boaventura com sua vasta experiência em musicais (Os Cafajestes, Company, Vítor ou Vitória, A Bela e a Fera, Chicago, My Fair Lady, Evita) se faz notável durante todo o espetáculo. Marisa Orth tem seus momentos de destaque, valendo uma atenção especial para “Ali Na Esquina” (Just Around the Corner) onde sua voz desliza sobre a melodia e de forma bem mais sensual que a de Bebe Neuwirth, a Mortícia da montagem original da Broadway, é simplesmente delicioso ouvi-la nesta canção. Também estão ótimos em cena Wellington Nogueira e a veterana Paula Capovilla, como Mal e Alice Beineke, respectivamente (os pais do noivo) e o condutor da história Cláudio Galvan, como Tio Fester, que leva a platéia à loucura.

A Família Addams, como quase todo bom musical da Broadway tem o seu número “a mais”, meio fora de contexto que se tirasse não faria muita diferença, como é o caso de “A Lua e Eu” (homônimo do original) vale ressaltar que é um número lindo, mas sem muito porquê. Sobreviveu aos cortes que foram feitos da primeira montagem para a versão da peça que fez turnê pelos Estados Unidos, que é a mesma que veio para o Brasil – primeira montagem internacional do musical – pois além de ser tecnicamente perfeito impressiona bem a audiência. O supérfluo que funciona e deve acompanhar a temporada de Sydney em 2013 e a turnê norte americana, com volta de reestréia prevista também para 2013, devendo viajar até 2014, com elenco a ser anunciado em dezembro próximo.
  
Obviamente seria insano tentar falar qualquer coisa sobre a Laura Lobo que criou uma Wandinha tão perfeita como a Wednesday da Krysta Rodriguez. Não tem como descrever, apenas ver e, principalmente, ouvir. O ingresso só por ela já valeria a pena!

Aos fãs de Addams, cuidado! O musical é inspirado nas criações de 1933 do cartunista Charles Addams (1912-1988), porém é algo inédito e diferente. Não criar uma expectativa ou qualquer idéia prévia do que virá é uma boa coisa a se fazer.

Enfim, que os valores exaltados nesse espetáculo cheguem a muitas platéias lotadas e alcancem vida longa. Que a normalidade esteja dentro de todos mesmo estranhos e diferentes. E que todos se respeitem, pois isso é normal, Pra Quem É Addams.

domingo, 15 de abril de 2012

A Alma da Música (O Sucesso por trás dos Musicais)

Não é nenhuma novidade que o público de musicais no Brasil aumentou consideravelmente. Hoje somos o terceiro maior produtor do gênero no mundo, perdendo apenas para Broadway e West End (Londres), respectivamente.

A maioria das pessoas pode achar que devemos isso a muita gente, se falarmos em termos de atualidade, sem dúvida que a afirmação é verdadeira. Pricilla - A Rainha do Deserto, por exemplo, contou com o trabalho de mais de 50 pessoas só para a montagem do cenário, durante três semanas. E para que o pano caia todas as noites além dos 27 atores/cantores/dançarinos, uma equipe de 20 ajudantes de palco, 16 pessoas para cuidar do figurino, e 7 só para preparar as perucas, contando com os operadores de luz, som, sem contar com bilheteria, recepcionistas e tudo mais que é necessários para que tudo saia em perfeita sintonia, facilmente, são mais de 70 pessoas que “entram em cena” para que a platéia seja deslumbrada pelo show. Se somarmos os equipamentos dos grandes musicais que estão em cartaz hoje em São Paulo (Hair, A Família Adams, Um Violinista no Telhado e Priscilla) ultrapassamos a marca de 60 toneladas de cenários.

É uma pena que a história não tenha sido sempre assim. Se olharmos 20 anos para trás, fazer musical no Brasil era sinônimo de chacota e amadorismo. Tudo que temos hoje é devido a persistência de poucos, em especial a dois “poucos” corajosos que insistiram até mudar radicalmente a visão do público e que os críticos tinham a respeito deste tipo de espetáculo. Obviamente que estamos falando de Charles Möeller e Claudio Botelho.

A pergunta, ou as perguntas que ficam são: Por que eles conseguiram? Por que não desistiram quando ninguém acreditava? E a mais importante: Como criar uma nova cultura e ser um dos responsáveis por colocar o país no terceiro lugar do ranking mundial dos musicais?

Pensar nessas respostas hoje em dia pode até ser um exercício razoavelmente fácil, mas se contextualizarmos as condições que haviam – ou melhor, não haviam – pois não haviam técnicos, microfones, luz adequada, atores adequados que soubessem cantar e dançar e, principalmente, não havia público adequado. A evolução do teatro musical no Brasil possibilitou a formação de iluminadores, sonoplastas, figurinistas, visagistas, aderecistas, peruqueiros, atores e um público preparado e cada vez mais exigente!

Dentre todas as possíveis respostas que poderiam justificar as perguntas acima e outras que poderiam ser feitas, talvez amor e persistência sejam as mais adequadas. A preocupação de apresentar mais do que espetáculos tecnicamente perfeitos, trazer para os brasileiros obras que conquistassem pela emoção, pelo “algo a dizer”, pelo respeito com o material a ser trabalhado acertaram em cheio o público.

A dupla Möeller e Botelho trouxe, e traz, para o Brasil os musicais em sua essência, com suas verdades, sem distorcer ou alterar seu significado. Nas versões do paulista – de Santos, Charles – e do mineiro – de Araguari, Cláudio – as obras, por mais que não sejam trabalhadas com sistema de franquia (a equipe da montagem original vai até o local onde será feita a nova montagem e é responsável por “ensinar” como deve ser o espetáculo, tudo é exatamente como no original, cenários, figurinos, coreografias, etc), a “alma” de cada texto, de cada música está presente na direção e na tradução que são criadas por nossos Reis dos Musicais.  Podemos notar isso na inocência d’A Noviça Rebelde, nas tradições d’Um Violinista no Telhado, na ideologia de libertação de Hair que já fez com que mais de mais de cem mil espectadores deixassem o sol entrar ano passado no Rio de Janeiro e atualmente está em cartaz no Teatro Frei Caneca em São Paulo.

O resultado de tudo isso já está mais do que evidente: o sucesso, sólido, sem volta! Por mais que não existam fórmulas para se chegar ao êxito, o amor, o respeito, a verdade e a seriedade com que cada versão é criada traduzem para nós, da melhor forma possível a alma presente em cada musical. Teatro é feito por gente e para gente. Que tenham cada vez mais pessoas, por trás das cortinas, nos palcos e, claro, na platéia. Que Charles Möeller e Cláudio Botelho traduzam para nós brasileiros a alma de muitos mais musicais. Aguardamos ansiosos que toque o terceiro sinal, as luzes se apaguem, a cortina se abra o show comece, e recomece, e continue, e nunca pare...   

domingo, 1 de abril de 2012

As Peças

"Eu imaginava que o mundo todo era uma grande máquina. As máquinas não vêm com peças extras, elas tem a quantidade exata de que precisam. Então eu pensei que se o mundo fosse uma grande máquina eu não podia ser uma peça extra. Eu tinha que estar aqui por alguma razão" ¹

Dificilmente ouviremos algo mais sensível, inteligente e correto que isto. Então, continuamos com a pergunta de sempre: a que viemos? Até você mudar de ideia, seu caminho é o primeiro que você começou a seguir. Nada impede que você tome um desvio, um atalho, ou siga por uma estrada que leve a mais de um destino, ou ainda, que permaneça parado.

Nunca saberemos com certeza qual a nossa função na Terra. O primeiro passo é acreditar que não somos uma peça extra. Uma vez não sendo uma peça extra, logo temos uma função e sua verdade será aquela em que você acredita.

Já sabemos que temos um objetivo e criamos uma verdade para acreditar. Partimos então para a parte prática: planos, projetos, cronogramas e tudo mais que nos levarão ao foco principal.

Seu objetivo/sonho/verdade pode ser muito simples ou bem complicado. Seu ponto de chegada está diretamente relacionado ao seu caminho. Quanto você está disposto a "caminhar" para chegar lá? Quanto tempo você está disposto a investir?

Busque amigos que estejam dispostos a sonhar com você. Qualquer caminho acompanhado será mais fácil do que sozinho, sem contar que as chances de não desistir e ter sucesso serão infinitamente maiores. Quando você divide seus sonhos, fica mais difícil parar de sonhar, pois você estará de certo modo acabando com os sonhos daqueles que acreditaram em você. Todavia, não se preocupe em dividir seus sonhos em muitas partes, para que ninguém os destrua por si próprio. Parar de sonhar é um direito que cabe somente a você. Antes de partilhar tenha certeza que existe amor, pois este não acaba e dará mais força para que ele viva e se realize.

Com o seu roteiro montado e com os personagens escalados, corra! A única certeza que temos é que não sabemos quanto tempo teremos para chegar lá. Então, que cheguemos o quanto antes.

Outra certeza que podemos ter é que não devemos parar, nunca, jamais. Assim como nossa respiração, nossos pensamentos nunca param. Siga sempre em frente, independente das suas convicções e das adversidades que irão surgir. Continue mesmo se depois de alguns (ou muitos) passos você descubra que está tudo errado e tenha que recomeçar.

Não tenha medo, sonhe, ame, ouse, acredite. O mundo precisa de você. Não existem peças extras. Mostre sua razão!

¹ - Citação do filme "A Invenção de Hugo Cabret"