Longe
de ser apenas mais uma comédia sem conteúdo A Família Addams celebra o respeito
entre as diferenças, o amor e a verdade acima de tudo. A verdade e o amor em
Addams transcendem o texto, as letras e a melodia e ficam estampadas nas
interpretações de Marisa Orth, Daniel Boaventura, Cláudio Galvan e da
hipnotizante Laura Lobo.
Às
vezes, os orçamentos exorbitantes se colocam como único ponto forte de uma
montagem. Para calar a crítica precipitada e para felicidade do público, os
assustadores 25 milhões de reais¹ gastos na produção estão longe de ser o ponto
principal do espetáculo.
Mortícia
(Marisa Orth) e Gomes (Daniel Boaventura) são apaixonados e estruturam seu
casamento baseados na verdade. Na estória, a filha primogênita do casal,
Wandinha (Laura Lobo), está noiva de um rapaz da família do interior,
classificada como normal. A diferença entre as famílias faz a união parecer
impossível até que o desenrolar da trama nos mostra que normalidade é um
conceito tão pessoal e diferente que a única coisa que podemos entender como
“ser normal” é respeitar as particularidades que existem de cada um para cada
um.
A
versão brasileira da A Família Addams (com tradução e versões de Cláudio
Botelho), além de uma ótima opção de entretenimento nos dá uma verdadeira aula
de moral e bons costumes. Desde a primeira música “Pra Quem É Addams” (a
viciante “When You Are Addams” no original) somos inspirados por mensagens
diretas de versos como “o maridão adora a esposa”, “um certo humor é necessário”,
“é sempre hora para o amor”, “a regra da família diz: família é pra valer”.
Outras versões incríveis e igualmente viciantes são “Bom Caminho” (Pulled) e "Só
dessa Vez" (One Normal Night) que nos transportam de vez para dentro do
espetáculo e nos fazem torcedores, desejosos e apreensivos, vibrando para que
tudo dê certo – o que parece bem difícil.
Daniel
Boaventura com sua vasta experiência em musicais (Os Cafajestes, Company, Vítor
ou Vitória, A Bela e a Fera, Chicago, My Fair Lady, Evita) se faz notável
durante todo o espetáculo. Marisa Orth tem seus momentos de destaque, valendo
uma atenção especial para “Ali Na Esquina” (Just Around the Corner) onde sua
voz desliza sobre a melodia e de forma bem mais sensual que a de Bebe Neuwirth,
a Mortícia da montagem original da Broadway, é simplesmente delicioso ouvi-la
nesta canção. Também estão ótimos em cena Wellington Nogueira e a veterana
Paula Capovilla, como Mal e Alice Beineke, respectivamente (os pais do noivo) e
o condutor da história Cláudio Galvan, como Tio Fester, que leva a platéia à
loucura.
A
Família Addams, como quase todo bom musical da Broadway tem o seu número “a
mais”, meio fora de contexto que se tirasse não faria muita diferença, como é o
caso de “A Lua e Eu” (homônimo do original) vale ressaltar que é um número
lindo, mas sem muito porquê. Sobreviveu aos cortes que foram feitos da primeira
montagem para a versão da peça que fez turnê pelos Estados Unidos, que é a
mesma que veio para o Brasil – primeira montagem internacional do musical –
pois além de ser tecnicamente perfeito impressiona bem a audiência. O supérfluo
que funciona e deve acompanhar a temporada de Sydney em 2013 e a turnê norte
americana, com volta de reestréia prevista também para 2013, devendo viajar até
2014, com elenco a ser anunciado em dezembro próximo.
Obviamente
seria insano tentar falar qualquer coisa sobre a Laura Lobo que criou uma
Wandinha tão perfeita como a Wednesday da Krysta Rodriguez. Não tem como
descrever, apenas ver e, principalmente, ouvir. O ingresso só por ela já
valeria a pena!
Aos
fãs de Addams, cuidado! O musical é inspirado nas criações de 1933 do
cartunista Charles Addams (1912-1988), porém é algo inédito e diferente. Não
criar uma expectativa ou qualquer idéia prévia do que virá é uma boa coisa a se
fazer.
Enfim,
que os valores exaltados nesse espetáculo cheguem a muitas platéias lotadas e
alcancem vida longa. Que a normalidade esteja dentro de todos mesmo estranhos e
diferentes. E que todos se respeitem, pois isso é normal, Pra Quem É Addams.